01 junho 2011

A vida do outro lado

Toda a gente sonha viajar, independentemente do destino, seja longe ou perto não deve haver viva alma que nunca tenha manifestado esse desejo ou vontade. Mesmo que acabe por se arrepender e não o faça, quando surge a oportunidade. A verdade é que viajar está no imaginário de todos.

Wollongong Harbour Light House. 
 Sempre tive essa vontade, essa curiosidade de conhecer diferentes povos, realidades, culturas e tradições. Nunca o fiz! Por vezes, por falta de coragem, outras por falta de condições. Fui adiando, esquecendo até, juntando esforços para atingir outros objetivos, outras metas. Tenho aprendido com o tempo - e com as pessoas que me rodeiam - que o sacrifício, a persistência e o bom senso é o melhor dos remédios para a concretização. Tenho aprendido a importância da rede, não a do Facebook mas sim a dos amigos que se vai atualizando consoante se caminha. Tenho aprendido que “podes ser tudo aquilo que quiseres ser, desde que saibas como”. 
Lone Pine Sanctuary, Brisbane
Cheguei a este hemisfério com a vontade de fazer, de concretizar projetos e de atingir objetivos. Esta vontade de “fazer” é muito vasta sobretudo quando se transforma numa espécie de catarse em recuperar o tempo que se tem perdido e as oportunidades que se perdem à medida que se vai envelhecendo. Obviamente que nem tudo está perdido, as conquistas concretizam-se a par e passo. Os projetos, de fato, acontecem no tempo que estipulaste desde que tenhas contribuído para tal. Embora, por vezes, aparente ser tarde demais nunca se deve esquecer que os atos de hoje se refletem nos passos de amanha. 
 
A vida do outro lado está na sua essência comparada a qualquer outro pais do dito “mundo desenvolvido” onde a cultura do consumismo e a lei do dinheiro prevalece. No entanto, por cá trabalha-se para viver e não se vive para trabalhar. Precisas de dinheiro para concretizar algum projeto, viajar ou estudar, vais trabalhar. Não pedes aos teus pais, nem te endividas na instituição bancaria mais próxima. Começas a laborar desde tenra idade para adquirir experiencia de trabalho e curriculum, sem nunca descartares os estudos. Qualquer profissão é digna e respeitada por todos. A relação entre o patrão e o empregado é bastante franca, se trabalhas ganhas se não trabalhas não ganhas. Se cumpres os objetivos recebes os louros se não cumpres és reavaliado, aconselhado e recolocado. Se és mau profissional és dispensado. Tao simples quanto isso. Os contratos não duram para sempre muito menos os postos de trabalho. A rotatividade é incentivada e se fores persistente não ficas desempregado por muito tempo. Se fores preguiçoso cais no ridículo e a sociedade esmaga-te de preconceito. Receber o subsídio de desemprego por muito tempo é mau sinal e reprovado. Mesmo o serviço de voluntariado é valorizado e tido em conta no acesso a uma profissão. O trabalho casual e part-time é muito usual e muito bem remunerado. 


Aboriginal plays Didgeridoo in Sydney.
A vida do outro lado é uma experiencia multicultural diária onde te cruzas com pessoas de todos os credos e dialetos, hábitos e costumes por alguns, tolerados por outros, invejados. Um dos vizinhos é siciliano, o outro croata. A empregada do café é grega e o padeiro italiano. O jovem que distribui os jornais é da Macedónia, o barbeiro turco e a enfermeira chinesa. Vêm de todas as partes do mundo, para estudar e ou trabalhar. Em busca de asilo ou de uma vida melhor. Procuram os grandes centros urbanos onde se instalam como formigas, em pequenos ou grandes aglomerados. Juntam-se em comunidade para se sentirem mais seguros e mais próximos da terra natal. Austrália é um país muito desejado, sobretudo pelos asiáticos e sul-americanos.








Os dias passam a correr do outro lado. Sem dar fé, já passaram 10 meses desde que deixei o hemisfério norte. Portugal é passado e poderá ser futuro. O presente é aqui e agora por terras australianas!
Sunset at Frasier Island, Queensland
Fotos: Manuel Ribeiro

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