19 maio 2007

As novas Oportunidades

Somos um povo iletrado - foi sempre assim - fruto de 40 anos de ditadura. Naquela época, iam para a escola os filhos dos pais ricos. A maioria da população não podia dedicar-se à educação – então um luxo ao alcance de poucos. O sistema assim o impedia, os jovens trabalhavam no campo, na lavoura, juntamente com os pais. Muitos contra a vontade própria, pois os progenitores, impediam os descendentes de irem para a escola. Segundo os ascendentes, “a escola não servia para nada”.
Trinta e três anos após a queda do regime, os portugueses continuam a liderar a tabela europeia da iliteracia. O regime democrático veio implementar a escolaridade obrigatória: os jovens passam a ter direito – um direito consagrado – à educação (escolaridade mínima obrigatória). Contudo, o abandono escolar prematuro foi sempre a causa do analfabetismo dos portugueses. A educação continua a ser cara. Muitas famílias não têm suporte financeiro adequado para sustentarem os filhos na escola. Muitos vêm-se sujeitos ao abandono escolar com o objectivo de melhorar a qualidade de vida das suas famílias.
O actual governo de Sócrates, vem implementar uma nova oportunidade, dirigida a todos os cidadãos que por motivos já referidos viram-se forçados a trocar a escola pelo trabalho.
A intenção desta administração é boa, de salutar até, mas, na prática vem trazer um novo problema à sociedade portuguesa.
Contemplemos o exemplo da forte taxa de desemprego entre os licenciados. Se existem tantos licenciados no desemprego, que adianta elevar a escolaridade dos restantes cidadãos? Se tivermos em conta a obtusa ideia que “o licenciado não está para se sujeitar a qualquer trabalho ou a qualquer vencimento após tantos anos de estudo e tanto dinheiro investido”, a elevação do comum cidadão a um nível de escolaridade mais elevado, poderá trazer a mesma reflexão! Não?
O cantoneiro, funcionário da câmara há 20 anos, não fez outra coisa da vida senão tratar dos jardins na cidade onde sempre viveu, exerce a profissão com que sempre sonhou. Que benefícios tem o cantoneiro, para além da inestimável valorização pessoal?
As “novas oportunidades” vêm apenas colmatar uma lacuna do foro estatístico, não passa apenas de um dado apontado pela União Europeia e a grande preocupação é “tapar os olhos” à Europa dizendo-lhes que “sim senhor, agora somos um pais culto e letrado apesar da elevada taxa de desemprego.” E o cantoneiro, que agarrou a “nova oportunidade”, tem agora o 12ºano, por conseguinte, quer ter o vencimento ajustado à tabela – seja feita a justa adequação! - todos os “novos oportunistas” passam à justa adequação, auferem maiores vencimentos, no entanto – aqui reside o cerne da questão – os patrões não estão dispostos a pagar salários mais altos – “não há dinheiro!”, queixam-se. Chega-se à conclusão que o cantoneiro, agora com o 12º ano, acaba por se tornar em “mão – de – obra cara”, passam-no à disponibilidade, fica desempregado!
O Cristiano Ronaldo, um dos futebolistas mais bem pagos do mundo. Se tivesse estudado, possivelmente não seria a estrela global que é actualmente. Chego à conclusão que quantas mais habilitações, maiores serão as probabilidades de desemprego, ou então vira-se politico, demagogo nos primeiros 5 anos, corrupto nos seguintes. Só mesmo em Portugal!
Pareço muito crítico relativamente a esta medida?! Não estou contra, como já referi atrás, é uma óptima medida. O problema é que medidas destas têm de se basear na sustentabilidade, significando que, para promover o nível da educação dos portugueses, deve-se igualmente promover o empreendorismo, incentivar a empregabilidade através de apoios financeiros (se for o caso). Acima de tudo é preciso instruir os cidadãos para aumentarem o sentido cívico e acabar, de uma vez por todas, com o jogo de interesses, um mal incutido numa democracia com trinta e três anos.
Esta “Democracia”, já adulta, devia aproveitar estas “novas oportunidades” e aumentar o seu próprio nível de literacia!

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